terça-feira, novembro 29, 2005

ENTREVISTA A MARCELO NUNO

“É preciso acabar com as coutadas dentro da Câmara”
Marcelo Nuno, economista por vocação e militante social–democrata por paixão, é hoje o vereador dos pelouros financeiro e de recursos humanos na Câmara Municipal de Coimbra.


DIÁRIO AS BEIRAS - Na fase que o país atravessa, é necessária alguma coragem para assumir um pelouro que tenha a ver com finanças. Porque é que aceitou?
Marcelo Nuno - Porque o dr. Encarnação mo pediu e eu senti que tinha essa responsabilidade. Ajudar, na medida do que me for possível, tendo em conta as minhas limitações pessoais e profissionais. Tive ocasião de explicar ao dr. Encarnação um conjunto de limitações que têm a ver com a minha intensa actividade profissional, ainda assim entendeu–se que era útil a minha presença e cá estou, a procurar fazer aquilo que ele me pediu e tentar corresponder àquilo que se espera que um responsável desta área seja capaz de fazer.
DB - Não receia que a sua intensa actividade profissional prejudique o seu desempenho enquanto vereador?
MN - Tenho. E, no dia em que entender que não sou capaz, di–lo–ei ao dr. Encarnação abertamente. Expliquei com toda a transparência e frontalidade quais as minhas limitações e quando entendermos ambos que não consigo cumprir com o que me foi exigido, vou embora. Até lá, espero, como tudo o que faço na vida, desempenhar as minhas funções com empenho e dedicação.
DB - Como é que encontrou as finanças da câmara?
MN - A câmara teve, nos últimos anos, um crescimento brutal em termos de investimento e de alargamento da sua capacidade de serviço. É natural que isso tenha provocado algumas tensões sobre o ponto de vista financeiro. Foram investimentos avultadíssimos, como é o caso do estádio, da circular externa e de muitas outras obras. Mas é, de facto, um enorme esforço em termos de capacidade de gestão e, consequentemente, um esforço brutal também no que concerne à necessidade de recursos financeiros para suprir com esses investimentos. Por outro lado, foram alargadas muitas áreas, há novos serviços, novas valências e tudo isto teve, obviamente, consequências na situação financeira. Importa agora ter um orçamento de rigor, até porque o contexto nacional assim o impõe. O Orçamento de Estado impõe medidas altamente restritivas e a Câmara de Coimbra não vai ser excepção a estas medidas. Em função disso vamos ter alguma limitações, não direi severas, mas importantes.
DB - As medidas a seguir poderão passar por mudar pessoas ou as formas de actuação?
MN - Ninguém é insubstituível, nem ninguém se deve fazer insubstituível. Devemos fazer com que as coisas - e as instituições não são excepção - funcionem para além da nossa existência, sem depender da peça A ou da peça B. E que funcionem de forma transparente, prestando–se um bom serviço ao cidadão. Não podemos esquecer que estamos a prestar serviços aos cidadãos e, nesta medida, qualquer instituição, câmara ou empresa depende dos recursos humanos que tem, do seu empenho, da sua motivação, do seu sentido de responsabilidade. Mas o que importa não é tanto mudar a pessoa A pela pessoa B - embora circunstancialmente isso possa acontecer - o que importa é criar mecanismos, para que as coisas funcionem sem prejuízo das pessoas.
DB - O excesso de pessoal e os longos atrasos nos pagamentos são duas das críticas feitas com maior frequência às autarquias. Qual é a situação na Câmara de Coimbra?
MN - Excesso de pessoal não sei se existe. Pode é haver uma deficiente afectação de recursos e isso é algo para alterar, mas que não se pode fazer do pé para a mão, é algo que carece de estudo e reflexão aprofundada. Quando cheguei à câmara, para além dos processos de recrutamento em curso, encontrei cerca de 90 pedidos de novas admissões. Isto significa que cada serviço pediu aquilo que acha necessário. Agora, vamos ter que avaliar se há mesmo essa necessidade de pessoal e ver se há ou não condições para reorganizar os serviços, de modo a que essas necessidades de pessoal sejam supridas por gente de dentro, se com a reorganização de processos podemos suprir essas necessidades, se com o aligeirar de alguma carga burocrática, se com o reformular de alguns processos, se com a afectação de outros recursos, que não os humanos, podemos ou não atenuar essas dificuldades.
(... )
Só com insistência o Vereador do Financeiro respondeu à pergunta incómoda " a Câmara não paga aos fornecedores e credores " É duro reconhecer mas uma das razões para os atrasos é que as despesas de pessoal aumentaram muitíssimo. De facto, hierarquizaram-se outras prioridade que passaram por pagar às centenas de boys que encheram a Câmara de Coimbra.

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