terça-feira, outubro 09, 2007

FALECEU FAUSTO CORREIA


4 comentários:

Anónimo disse...

Coimbra está de luto, morreu um grande homem e político. Coimbra ficou mais pobre.
Ricardo Simões.

Anónimo disse...

Coimbra fica mais pobre, um dos seus defensores morreu, paz à sua alma.

Anónimo disse...

Morreu um grande AMIGO!!! Obrigado Fausto!!!

Anónimo disse...

IN Diario de Coimbra

Coração não deixou concretizar o sonho…

O coração atraiçoou Fausto Correia na madrugada de terça-feira, tirando-lhe a vida aos 55 anos. Na memória de todos ficarão as qualidades do homem, do político e do amigo, um “coimbrinha” profundamente ligado à vida da cidade que o viu nascer e que deixa este mundo sem concretizar o seu maior sonho: ser presidente da Câmara Municipal de Coimbra

«Não me levo demasiado a sério, mas levo as coisas muito a sério. Quem se leva demasiado a sério fica sem espaço para levar os outros a sério». Foi fiel a este lema que Fausto Correia regeu a sua vida, profissional, política e pessoal. E era assim que pretendia continuar, se um ataque de coração, na madrugada de ontem, no apartamento onde vivia em Bruxelas, não lhe tivesse tirado a vida, aos 55 anos de idade.
Coimbra, Portugal e a Europa receberam com consternação e em estado de choque a notícia da sua morte, de tal maneira que choveram declarações de pesar para demonstrar a tristeza ao ver partir aquele que é, para Coimbra, um dos filhos mais amados, um dos políticos mais respeitados e um dos defensores mais acérrimos. De tal maneira que Fausto Correia há-de ser sempre o eterno candidato a líder do seu município.
Todos os que com ele alguma vez privaram destacam o seu profundo amor por Coimbra. Uma paixão de “coimbrinha” tal, que a cidade que o viu nascer há 55 anos (faria 56 no próximo dia 29) era o refúgio de sempre, especialmente quando a vida, pessoal ou profissional, se encontrava num impasse ou o obrigava a uma decisão importante.
«Mesmo estando em Lisboa, acontecia muitas vezes, em alturas de angústia e de desencanto com as coisas, vir a Coimbra, nem que fosse para cortar o cabelo e fazer a barba à Barbearia Comercial, nas Escadas de Santiago», conta ao Diário de Coimbra, Rui Avelar, jornalista, seu adjunto entre 1995 e 2002, quando esteve no Governo de António Guterres, e amigo há 35 anos. Coimbra «era o fertilizante e os litros de água para ele crescer e fortalecer», continua.
De tal maneira que ainda agora, a viver em Bruxelas há três anos, vinha quase todos os fins-de-semana à sua cidade e não dispensava umas horas de tertúlia no eterno Trianon. A Baixa tinha um cantinho especial no seu coração. Lá, onde cresceu ao lado dos pais e onde carinhosamente era chamado de “Faustito” ou de “Fausto Rolhas” por muitos lojistas e moradores.

Lista infindável de cargos

A mãe, falecida há menos de dois anos, era a grande referência, de tal maneira que lhe telefonava todos os dias. O pai, um dos comerciantes mais reputados daquela zona da cidade, tinha com Fausto, seu filho único, uma atitude muito austera e rígida, especialmente quando este se dedicava à vida académica e de boémia, típica da cidade, em vez de se dedicar ao trabalho.
No entanto, trabalho e dedicação a Coimbra foi coisa que não faltou a Fausto Correia, casado com uma médica e com três filhos. Magoava-se, ofendia--se, de cada vez que tratavam mal a sua cidade e, além disso, a lista de cargos que exerceu (alguns ainda exercia agora) nas várias instituições de Coimbra é quase infindável.
Adjunto do governador civil, Fernando Valle, vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra, dirigente da Associação Académica de Coimbra e presidente da Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (era hoje em dia membro do Conselho Académico), co-fundador do Clube Académico de Coimbra, presidente da mesa da Assembleia-Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, presidente da Assembleia-Geral do Olivais Futebol Clube (cargo que ainda mantinha) …
Passava a semana em Bruxelas onde exercia, desde 2004, o cargo do eurodeputado do PS, mas mesmo agora, não perdia a ligação a Coimbra, nem Coimbra se esquecia daquele que será sempre o seu eterno candidato a presidente do município. Rui Avelar confirma que este era um dos seus maiores sonhos, políticos e pessoais, «ser útil aos seus, administrar a coisa pública e ser útil aos seus concidadãos, era o que mais o encantava», garante o amigo que, muitas vezes, em muitas conversas, lhe falou no momento ideal para a candidatura que acabou por não acontecer.
Rui Avelar tem a intuição de que o sonho talvez não se concretizasse. «Penso que iria levar a sua obrigação de eurodeputado até ao fim e, em 2009, iria dedicar-se à vida de empresário ou calçar as pantufas», avança, recordando, emocionado, quando em 2001, logo a seguir à queda da Ponte de Entre-os-Rios, e a respectiva “queda” do ministro Jorge Coelho, de quem era secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, ficou numa situação política tremida e Rui Avelar lhe disse que talvez fosse o momento de se candidatar à presidência da Câmara Municipal de Coimbra.

De uma profunda timidez

Aí e também em 2004, quando a co-incineração era o tema que mais o afastava do seu partido de sempre, o PS, a resposta foi negativa, muito por “culpa” das suas qualidades políticas e humanas. «Era um homem “probo”, de uma honradez e de uma seriedade absolutamente acima de qualquer suspeita, tinha um grande humanismo, um grande sentido de tolerância, de solidariedade e de justiça», a que juntava mais três qualidades políticas «a coragem, a coerência e a memória». Todas elas o impediram de atraiçoar amigos, colegas de partido e até ideais e o foram afastando de concretizar o grande sonho.
Como político não há quem lhe aponte defeitos (um dos seus maiores amigos, Dias Loureiro, a quem chamava «meio-irmão» pertence ao PSD) e muito menos como homem e amigo. Todos, na hora de chorar a sua morte, recordaram a sua amizade. «Dizer que era um homem do tamanho do mundo era estar a pecar por defeito», considera Rui Avelar. Ele praticava uma amizade recheada de pormenores, como o nunca esquecer um aniversário ou enviar mensagem de felicitações ou de pêsames, sempre com a ajuda da secretária dos últimos 25 anos, Gracinda Santos, que lhe perguntava quais eram, afinal, os adjectivos que queria colocar em cada fax, antes da sua assinatura. Além disso, tivesse 20 ou 200 chamadas não atendidas no seu telemóvel, fazia questão de telefonar de volta, de dar uma satisfação.
Tudo exemplos de uma das grandes marcas de Fausto Correia: a rigidez. «Ele era escravo da forma, muito exigente com ele próprio. Com ele não havia verrugas», garante, recordando as várias vezes que, vendo-o prestar declarações a jornalistas, o avisava que não valia a pena ditar-
-lhes a pontuação. «Não era falta de confiança, era purismo, exigência, excesso de zelo», afirma.
Aspecto bonacheirão, barba com alguns centímetros, chamava a atenção onde quer que estivesse, como figura pública e como político. O que poucos saberão é que Fausto Correia era um homem de uma profunda timidez, de tal maneira que era incapaz de afrontar quem quer que fosse directamente. «Tinha um chavão quando falava em público que era dizer que se dirigia a todos e a cada um, para ninguém pensar que foi esquecido», para além disso, «recorria sempre ao seu humor muito fino britânico, com uma ironia e um sarcasmo que, mesmo sem o dizer directamente, funcionava sempre como uma forma de passar a sua mensagem», recorda Rui Avelar.
Diabético, tinha sofrido de uma pancreatite há alguns anos, mas o coração nunca tinha dado sinais, apesar de alguns excessos cometidos por quem passava a vida no avião, em viagem e tinha espírito de nunca parar. Foi precisamente o coração que lhe pregou uma partida na madrugada de terça-feira, impedindo, com certeza, Fausto Correia de concretizar muitos dos seus sonhos e projectos para e com Coimbra. Amigos, conhecidos, camaradas de partido, e adversários políticos choram a sua morte inesperada. À família o Diário de Coimbra deixa sentidos pêsames.

Velório no Pavilhão da Solum

O facto do falecimento ter ocorrido em Bruxelas e de ser necessário proceder à autópsia fez com que ontem, à hora de fecho desta edição, não fosse possível apurar o dia do funeral. A autópsia deve realizar-se hoje à tarde de modo a que a urna possa viajar para Portugal durante o dia. A urna deverá passar, antes de chegar a Coimbra, pelo Pavilhão Maçónico em Lisboa. Em Coimbra, o corpo seguirá para o Pavilhão da AAC/ OAF, na Solum, onde decorrerão as cerimónias fúnebres, eventualmente na sexta-feira. Ontem, a partir do meio da tarde, a bandeira da cidade, nos Paços do Concelho, foi colocada a meia haste tal como em Miranda do Corvo.

Cavaco Silva, José Sócrates e Mário Soares são unânimes
“O país ficou mais pobre”

O desaparecimento de Fausto Correia foi ontem alvo de muitas reacções político-partidárias com destaque para as palavras de Cavaco Silva, José Sócrates e Mário Soares. O Presidente da República considerou que a morte do eurodeputado socialista, uma «personalidade de relevo na vida democrática nacional», deixou «mais pobre a representação portuguesa no Parlamento Europeu e a vida política e cívica no nosso país».
Cavaco Silva, que se encontra em visita oficial aos Açores, enviou um telegrama de condolências à família do eurodeputado, afirmando ter recebido a notícia da morte do ex-governante e dirigente socialista com a «maior tristeza».
O primeiro-ministro, José Sócrates, por seu turno, disse estar «profundamente chocado». Admitiu ter perdido «um grande amigo». «Lamento muito. Era um dos dirigentes mais destacados do PS. Fiz com ele um trajecto político nas últimas dezenas de anos», sublinhou.
«Foi um grande político. Muito dedicado a Coimbra e à sua região e destacado deputado e membro do Governo», concluiu.
Mário Soares foi outro dos companheiros de Fausto Correia na vida política, que conheceu quando «ainda estava na Juventude Socialista e era estudante universitário».«Nos principais combates políticos, Fausto Correia sempre esteve ao meu lado. Nas últimas eleições presidenciais, foi mandatário da minha candidatura no distrito de Coimbra, tarefa em que se revelou incansável», declarou.
Soares definiu Fausto Correia como «um homem solidário, fraterno e anti-sectário, o que explica que tivesse amigos em todos os partidos políticos, apesar das suas fortes convicções socialistas». «É uma grande perda para Coimbra, para o PS e para o país. Era actualmente deputado no Parlamento Europeu, função muito desgastante em termos de actividade e que obriga a penosas viagens», vincou.
Também Luís Filipe Menezes reconhece que o PSD está de luto pela morte do eurodeputado socialista, pois tratava-se de «uma grande referência da democracia portuguesa». Aos jornalistas, ontem em Coimbra, onde reuniu com autarcas do seu partido, o líder eleito do PSD disse ter recebido «com muita tristeza» a notícia. «Além de ser meu amigo, era uma referência da actividade política no país e em particular nesta região», considerou.
O presidente da ANMP, Fernando Ruas, destacou o «indivíduo extremamente pragmático e dialogante», qualidades às quais juntava «uma afabilidade pessoal que também não era normal». Por isso, sublinhou, «quando coisas destas acontecem com figuras deste jaez, só temos que ficar pesarosos».
Jaime Soares, presidente da Comissão Política Distrital do PSD, e Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, lamentaram a perda de «um grande amigo». «Era um homem de um coração e alma muito grandes, que deixa muita saudade», disse emocionado o autarca de Poiares, enquanto que o seu homólogo de Gouveia disse que Fausto Correia «representava o grande espírito de Coimbra».
O CDS/PP reagiu pela voz da Concelhia, presidida por Luís Providência, assumindo que «Coimbra perde um Homem bom, uma das suas maiores figuras, um político sempre dedicado à sua cidade».
Pelo PCP, reagiu o deputado António Filipe que disse guardar «boas recordações» das «relações cordiais» de trabalho com Fausto Correia na Assembleia da República. «Tivemos com ele, na Assembleia da República, relações de trabalho muito cordiais, quer enquanto deputado quer enquanto secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares», afirmou António Filipe.

Dias sempre preenchidos, em Coimbra ou Bruxelas

O bom samaritano

No âmbito de um trabalho académico, a jornalista do Diário de Coimbra, Sílvia Torres, acompanhou, em Junho último, o eurodeputado Fausto Correia durante alguns dias consecutivos do seu quotidiano. Em Coimbra tal como em Bruxelas observou de perto as múltiplas actividades de Fausto Correia e falou com muitos dos que com ele privavam. Uma reportagem que publicamos hoje

Segunda-feira, Aeroporto da Portela, Lisboa, 12h00. O avião ainda não levantou voo e Fausto Correia já dorme. O percurso aéreo entre Lisboa e Bruxelas faz parte da rotina do socialista desde 2004, um dos 24 deputados portugueses do Parlamento Europeu. Passa todos os fins-de-semana em Coimbra, cidade onde nasceu. «Coimbra é trajecto obrigatório para recarregar energias», diz o socialista.
O sono é tão profundo que Fausto Correia nem dá pela chegada do almoço. Fica sem a refeição e só acorda quando o avião aterra no aeroporto de Bruxelas. No local, espera-o um taxista, a ele e a Jamila Madeira, amiga e a mais jovem eurodeputada portuguesa presente na capital da Bélgica que apanhara o mesmo voo. Chegam ao Parlamento já a meio da tarde mas, antes de “picarem o ponto” e começarem a trabalhar, almoçam uma salada no “bar dos deputados”. Entre uma e outra garfada, Fausto Correia telefona a Francisca da Cruz, uma das três assistentes, para que lhe providencie a agenda da semana.
O gabinete do eurodeputado socialista fica no 14.º andar. As janelas do escritório são grandes - delas vê-se bem a cidade. Assim que se senta na cadeira, em frente à secretária e de costas voltadas para a metrópole, acaba o descanso das auxiliares. A porta do gabinete fica paredes-meias com a sala das assistentes e não se fecha. Kica, nome pelo qual trata Francisca da Cruz porque a conhece desde criança, é chamada dezenas de vezes. «Mal chega o deputado é logo um caos, temos de apresentar tudo e mais alguma coisa», diz com grande à-vontade. Desta vez, Fausto Correia saiu cedo do Parlamento. Pouco depois das oito já estava a dizer adeus às assistentes, Francisca da Cruz e Dulce Lopes. Fora convidado para um jantar. Sair às 20h00 é sair cedo porque o horário habitual fica mais próximo das 21h30/ /22h00. «Ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, os deputados têm uma vida muito desgastante», defende Francisca. «Além do trabalho, são obrigados a estar presentes em muitas reuniões e convidados para muitos jantares».

“La salle du Directeur”

Fausto Correia almoça e janta quase sempre acompanhado. «Que eu saiba, é o único deputado que toma refeições com as assistentes. Pelo menos no “bar dos deputados” [onde almoçam diariamente e quase sempre depois das 14h00] só lá costumamos estar nós [Francisca da Cruz, Dulce Lopes e Ana Wilson]». Fausto Correia não só se limita a convidar, como também paga as refeições. Ao grupo, é frequente juntar-se Jamila Madeira, a vizinha de gabinete. Há sempre alguém que tenta pagar a conta mas nunca consegue. «Eu já nem digo nada, não vale a pena», lamenta Dulce Lopes. «Qualquer dia deixo de vir», refuta Jamila.
Também os jantares são por conta do deputado. O local é sempre o mesmo: o Porto Fino, um restaurante italiano que fica a escassos metros do Parlamento. «É o meu restaurante preferido pela simpatia do proprietário que é tunisino, pela qualidade dos serviços e porque aqui servem refeições fora de horas. Regra geral, saímos tarde do Parlamento». A preferência de Fausto Correia assenta ainda num outro argumento: nesta casa, apesar de na Bélgica ter sido aplicada, no início do ano, a lei que proíbe o consumo de tabaco em restaurantes, o eurodeputado pode fumar. O conimbricense fuma «à socapa e fora dos tramites legais» numa pequena sala, na cave do restaurante. Por dia, em média, põe à boca 40 cigarros. O espaço não está tão dignamente decorado como os três andares superiores mas tem uma mesa e algumas cadeiras – Fausto Correia “não é de cerimónias”. A sala, exclusividade do deputado, é, segundo o tunisino Mário, «la salle du Directeur».
Mário já sabe que, para Fausto Correia, tem de haver sempre cerveja sem álcool – é o que bebe em todas as refeições. Os jantares no Porto Fino prolongam-se sempre até à meia-noite. O “Directeur”, que aproveita as refeições para conversar, é o último a sair. Mário deixa-o à vontade. Espera o tempo que for preciso para fechar o estabelecimento porque «não é burro» e sabe que tem ali um bom cliente, pela assiduidade e pela gorjeta. O trajecto entre o Porto Fino, na Rue du Luxembourg, e o apartamento T1 do socialista, na Rue d’Arnaut, demora um minuto a percorrer a pé. Como normalmente o deputado leva trabalho de casa, o dia termina já de madrugada.

Porshe verde metalizado

Em Coimbra o cenário repete-se. O café Trianon, em Celas, faz parte da lista de locais de visita obrigatória. Todas as sextas-feiras à noite e, muitas vezes, aos sábados, é possível encontrar o assumido «coimbrinha da Baixa» no estabelecimento. Assim é há 34 anos. João Duarte, funcionário da casa desde 1982, já o conhece bem. «Vem cá sempre com os amigos. Costuma beber um chá, uma água sem gás ou um descafeinado e, se o lugar estiver disponível, senta-se sempre ali, do lado esquerdo», aponta o empregado de mesa já a ser pressionado pela «patroa», que ainda não almoçou «e já são duas horas». Apesar da pressa, há ainda tempo para o «Sr. João» dizer que Fausto Correia é «uma pessoa espectacular» que deixa sempre gorjeta. «E olhe que é muito generoso». O deputado é, regra geral, o último a sair, por volta das 2h00/ /3h00. As conversas entre amigos, conta, giram à volta do futebol e da política.
Coimbra é uma das paixões de Fausto Correia. É aqui que está a família, os amigos de tertúlias, a Baixa (onde morou até aos 20 anos) e o Organismo Autónomo de Futebol da Associação Académica de Coimbra, outra instituição que faz parte das suas paixões mas que, nos últimos anos, lhe tem trazido «muito sofrimento». Não menos importância assume o Olivais Futebol Clube do qual é presidente da assembleia-geral - «o meu avô António de Sousa foi o fundador número 1 do clube» - e o “Despertar”, um semanário “republicano independente” com 90 anos de existência fundado pelo avô materno. «Comecei a escrever no jornal – o mais antigo do distrito de Coimbra - com 14 anos e hoje sou o director. É uma paixão e um compromisso». Aos 15 anos, Fausto Correia escreveu para o Despertar uma carta aberta dirigida ao pai, contestando o facto de este poupar demasiado. No texto, escreveu que quando fosse grande iria ter um Porsche verde metalizado. Era o carro utilizado nos ralis pelo piloto Américo Nunes na década de 60.
Hoje, Fausto Correia já não sonha com um Porsche verde metalizado. A sua maior ambição é ver os filhos, Miguel, António e José, rapidamente com um canudo. Em 2009, o “coimbrinha” assegura deixar o Parlamento e, sem mais desvendar, «passar a ter uma semana de quatro dias de trabalho. Provavelmente, passarei a dedicar mais tempo ao Despertar».

“Animal político”

Em Coimbra, Fausto Correia é conhecido por “animal político”. A designação, segundo o próprio, que não sabe «se se trata de um elogio ou de uma crítica», já não corresponde à realidade. «Estou mais afastado do centro de decisão política do que há meia dúzia de anos. Hoje, o único cargo que ocupo é o de presidente da mesa da Comissão Política da Federação de Coimbra do PS». Admite que já não tem condições físicas, psíquicas e anímicas para voltar a desempenhar cargos de outros tempos.
Na década de 90, Fausto Correia foi presidente da direcção da Académica/Organismo Autónomo de Futebol. Muito se tem especulado sobre um possível regresso do deputado à Académica mas «isso está totalmente fora de questão». Quanto a uma eventual candidatura ao cargo de presidente da Câmara Municipal de Coimbra, um sonho de longa data que não esconde, Fausto Correia diz que ainda é cedo para tomar uma decisão. Certo é que em 2009 não se vai recandidatar ao cargo de deputado europeu.

Tratado de Prüm

Um dos momentos marcantes da actividade de Fausto Correia no Parlamento Europeu foi a aprovação do Tratado de Prüm, em Junho deste ano. O deputado, enquanto membro efectivo da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e os Assuntos Internos, foi o relator principal do documento. Embora tenha sido adoptado fora do quadro da União Europeia é um tratado de direito internacional, que regula o intercâmbio de informações sobre ADN, impressões digitais, registo de veículos e dados pessoais e não pessoais, no âmbito da cooperação policial transfronteiriça entre as partes contratantes. A luta contra o terrorismo, a criminalidade e a imigração ilegal estão na base do documento, «aprovado pelo Parlamento Europeu de forma esmagadora».
O Tratado de Prüm foi assinado em 2005, em Prüm, na Alemanha, por sete estados-membros da União Europeia: Bélgica, Alemanha, França, Luxemburgo, Países Baixos, Áustria e Espanha. No ano passado, outros oito estados-membros - Finlândia, Itália, Portugal, Eslovénia, Suécia, Roménia, Bulgária e Grécia - declararam formalmente a intenção de aderir ao tratado. «Nos últimos dois anos, graças ao tratado, foram detectados 22 criminosos que, de outro modo, não teriam sido descobertos», conta Fausto Correia.

Do jornalismo à política

Natural de Coimbra, Fausto Correia licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e repartiu a sua vida entre o jornalismo e a actividade política. Como jornalista integrou os quadros do “República”, foi um dos fundadores do diário “A Luta” e delegado da ANOP em Coimbra. Entre 1983 e 1992, fez parte dos conselhos de administração da Rádio Difusão Portuguesa e, de 1992 a 1995, foi vice--presidente da direcção-geral da Agência Lusa de Informação.
No próximo ano, Fausto Correia assinalaria 40 anos de vida ligados à política. Foi deputado socialista, secretário de Estado da Administração Pública, dos Assuntos Parlamentares, Adjunto do ministro de Estado e adjunto do primeiro-ministro.
Além de eurodeputado, Fausto Correia era actualmente deputado à Assembleia Municipal de Miranda do Corvo e presidente da Mesa da Comissão Política da Federação de Coimbra do PS, estrutura de que foi o líder entre 1978 e 1980 e entre Março de 2002 e Abril de 2003.
Foi presidente da Associação Académica de Coimbra/Organismo Autónomo de Futebol e a vida política forçou-o a deixar o lugar antes do fim do mandato.
No Parlamento, era membro da Comissão Parlamentar das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos e membro suplente da Comissão Parlamentar dos Transportes e Turismo do Parlamento Europeu.
Integrava ainda a delegação para as Relações com os Países da Comunidade Andina e era membro suplente das delegações para as Relações com o Mercosul e à Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana.