quinta-feira, dezembro 15, 2005

O DEBATE ALEGRE / SOARES EM ANÁLISE.


Manuel Alegre entrou melhor no debate de ontem à noite, mas depois deixou transparecer um desconhecimento total dos poderes presidenciais que, talvez para muitos não, mas para quem acompanha a política, como eu, não me surpreendeu.
Alegre é sobretudo um poeta e, também, um excelente tribuno, no fundo, um bom parlamentar. Não é, nem se sente bem nesse papel, um executivo, e nunca foi um "trabalhador", um "fazedor" político. Ora quem nunca fez e nunca aceitou fazer é fácil colocar-se sistematicamente no papel crítico, ao lado dos insatisfeitos.
Mário Soares não entrou bem, não concordo com ele quando afirma que um candidato presidencial deve ter apoios partidários. Entendo que não. Alegre esteve bem na resposta e tem razão sobre a sua legitimidade para ser candidato presidencial. Porém, já não tem razão Alegre quando mantém os cargos que ocupa de indicação partidária, apesar de eleitos, como sendo o seu cargo de deputado socialista e de Vice-Presidente da Assembleia da República por indicação do PS. Aí há claramente, não ilegitimidade, não violação da Constituição da República, mas falta de ética política.
Soares esteve bem ainda na demonstração da sua experiência presidencial, revelando a necessidade de construir consensos e conseguiu demonstrar que Alegre seria um presidente radical, crispado e com falta de sensibilidade/experiência para moderar e equilibrar os vários papeis das instituições democráticas.
Quanto à questão da experiência versus renovação, bom Manuel Alegre é dos últimos que pode abertamente falar de renovação, ele que permanece no parlamento nacional há 30 anos, e há vários como Vice-Presidente da Assembleia da República, sem nunca ter tomado a iniciativa de contribuir ele próprio para a renovação da classe política. A renovação deve começar noutros órgãos do Estado, não pode começar no telhado da hierarquia, ou seja na Presidência da República.
Última Nota: Manuel Alegre surpreendeu-me, pela negativa, quando afirma que dissolveria o parlamento se as águas fossem privatizadas ( não que eu não concorde que a água é um bem essencial ) não percebendo que isso é responsabilidade de um Governo. E se depois da dissolução o mesmo partido vencesse as eleições. Como ficaria a posição deste Presidente ?

1 comentário:

Anónimo disse...

Um egocentrista na Presidência da República seria uma catástrofe. É isso que Alegre seria.