terça-feira, junho 14, 2005

CURVAMO-NOS EM SILÊNCIO PERANTE A MORTE DO VERDADEIRO POLÍTICO: ÁLVARO CUNHAL

Morreu um dos poucos políticos que lutou sempre por aquilo em que acreditava, sem interesses mesquinhos e pessoais. Fez da sua vida uma escola da vida.

Em Junho de 1937 é preso pela primeira vez. É levado para o Aljube e posteriormente transferido para Peniche. Um ano depois é libertado, mas por razões políticas é obrigado a cumprir o serviço militar, em Dezembro de 1939, na Companhia Disciplinar de Penamacor. Por razões de saúde, Álvaro Cunhal acaba por ser dispensado pela Junta Médica Militar.

Ao longo da década de 30, Cunhal foi colaborador de vários jornais e revistas, entre os quais se contam "O Diabo"; "Sol Nascente"; "Seara Nova"; "Vértice"; e nas publicações clandestinas do PCP, "Avante" e "Militante", onde escreveu artigos de intervenção política e ideológica.

Em Maio de 1940 é novamente preso e faz o seu exame final na Faculdade de Direito de Lisboa sob escolta policial. Apresenta uma tese sobre a realidade social do aborto, que seria avaliada por um júri composto por Marcelo Caetano, Paulo Cunha e Cavaleiro Ferreira, figuras destacadas do regime Salazarista. A sua classificação final foi de 16 valores.


Em 1941 trabalhou como regente de estudos no Colégio Moderno, a convite de João Soares, pai de Mário Soares, função que desempenhou até Dezembro do mesmo ano, altura em que entrou de novo na clandestinidade.

Em 1947, faz uma viagem clandestina à URSS, Jugoslávia, Checoslováquia e França, a fim de restabelecer as relações do PCP, com o movimento internacional.

A 25 de Março de 1949, Álvaro Cunhal é preso pela terceira vez, numa casa clandestina do Luso. Com ele são também presos Militão Ribeiro e Sofia Ferreira.

O seu julgamento ocorreu um ano depois. Neste julgamento Cunhal fez uma declaração em que se afirmava "filho adoptivo do proletariado" e dirigiu um forte ataque ao regime salazarista.

Foi condenado e preso na Penitenciária de Lisboa, sendo transferido para a prisão-fortaleza de Peniche em 1958.

Em 1953 desenvolve-se um movimento internacional de solidariedade pela sua libertação, que conta com a participação de inúmeros intelectuais e artistas estrangeiros. Destes destacam-se Jorge Amado e Pablo Neruda, que lhe dedica o poema "Lámpara Marina".

Dos onze anos que esteve encarcerado, foi mantido incomunicável durante catorze meses e passou oito em total isolamento.

Em Janeiro de 1960 dá-se a famosa fuga do Forte de Peniche.

A 25 de Dezembro de 1960 nasce a sua única filha, Ana Cunhal, fruto da sua relação com Isaura Maria Moreira.

Após a fuga, Cunhal fica ainda cerca de dois anos em Portugal, na clandestinidade. Durante este período viveu em casas clandestinas de vários pontos do país como: Sintra, Ericeira, Amadora, Coimbra, Porto.

Em 1961 é eleito Secretário-geral do PCP.

Em 1962 é enviado pelo PCP para o estrangeiro, primeiro para Moscovo, depois para Paris onde vive clandestino durante cerca de oito anos. Assiste em Paris ao Maio de 68 e é lá que a Revolução de Abril o vai surpreender.

Regressa a Portugal a 30 de Abril de 1974.

A 15 de Maio do mesmo ano toma posse como ministro sem pasta no I Governo Provisório. Mantém o mesmo cargo nos II, III e IV Governos Provisórios.

Em 1975 é eleito deputado à Assembleia Constituinte e até 1992, altura em que se afasta do cargo de Secretário-geral do PCP, é eleito deputado à Assembleia da República, por Lisboa, em todas as eleições legislativas (1976; 1979; 1980; 1983; 1985; 1987). Só por curtos prazos ocupará esse lugar.

Em 1982 torna-se membro do Conselho de Estado, cargo que abandona em 1992.

Em Janeiro de 1989 parte para Moscovo, onde será sujeito a uma intervenção cirúrgica cardiovascular. Já recuperado, regressa a Portugal em Junho do mesmo ano.

No ano de 1992 abandona o cargo de Secretário-geral do PCP, que passa a ser ocupado por Carlos Carvalhas, e é eleito pelo Comité Central para o então criado cargo de Presidente do Conselho Nacional do PCP.

Liberto das suas funções de liderança partidária, Álvaro Cunhal, a par da actividade política corrente, assume claramente a sua condição de romancista e esteta. Neste sentido, em 1995 reconhece publicamente ser o romancista Manuel Tiago e um ano mais tarde publica um ensaio sobre estética, onde apresenta as suas reflexões neste domínio

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais vale tarde do que nunca..

Anónimo disse...

Eu nao disse: capazes do pior e do melhor, parabens pelo esforço, o visado merece. No blog em que mais assiduamente milito escolhi quatro palavras apenas coragem, resistencia, coerencia, dignidade. Não é um mito, era "só" um homem exemplar.Apesar de ter começado a minha militancia politica activa com almeida santos e logo a seguir em força no masp da fernao de magalhaes, apesar de me identificar como indefectivel de soares,ele proprio teu compagnon de route e depois adversário, é com o mais sentido respeito que te digo... até sempre camarada